Entrevistas

Jejum Intermitente: uma prática milenar que nunca saiu de moda – Parte III

Chegou a hora dos pontos mais polêmicos e intrigantes sobre o Jejum Intermitente!!!

Na terceira e última parte dessa série exclusiva, o Dr. Marcelo Denaro revelará quais deles não passam de mitos e quais são realmente verdadeiros.

 => E mais! O Dr. Marcelo deixou um BÔNUS especial para você!

Ele conta sua experiência com um jejum de 72 horas e traz um resumo com várias dicas importantes, destacando nove vantagens para inspirar você a começar a praticar o jejum intermitente com segurança e sem medo.

Instagram: @marcelofdenaro

Recapitulando…

Na PARTE I, você aprendeu as informações básicas a respeito do jejum intermitente.

Na PARTE II, detalhamos como essa técnica milenar funciona na prática, apresentando várias orientações para facilitar a adoção do jejum em sua rotina.

Caso queira conferir novamente o conteúdo já apresentado, clique nos links abaixo:

=> PARTE I – Informações básicas sobre o jejum intermitente

=> PARTE II – Jejum intermitente na prática

Está preparado para começar? Vamos lá?

PARTE III – MITOS E VERDADE SOBRE O JEJUM INTERMITENTE

18. O JEJUM INTERMITENTE É CONSIDERADO UMA PRÁTICA DE RESTRIÇÃO CALÓRICA? ELE PODE CAUSAR DESNUTRIÇÃO?

Na verdade, é uma prática de COMPLETA restrição calórica.

Entretanto, é absolutamente diferente da desnutrição, porque temos o controle da situação.

A qualquer momento podemos interromper o jejum, pois existem alimentos disponíveis. A cada período em que jejuamos, intercalamos com outros repletos de boa alimentação, o que irá nos manter bem e saudáveis.

Saltar algumas refeições não irá nos desnutrir. Se fosse assim, teríamos desaparecido como espécie há milhares de anos. Com certeza, nossos ancestrais não comiam 3 refeições por dia.

Vejamos como nosso organismo funciona em termos nutricionais:

Existem os macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) e os micronutrientes (vitaminas e minerais).

Boa parte dos macronutrientes podem ser produzidos pelo nosso corpo.

Porém, alguns aminoácidos e gorduras essenciais precisam vir da alimentação. No jejum, o corpo utiliza recursos para preservá-los, diminuindo sua excreção (nos rins, vias biliares e intestino) e estimulando sua “reciclagem”.

Uma alimentação Low Carb (mais rica em gorduras boas e proteínas) adotada no intervalo dos jejuns ajuda muito na reposição desses macronutrientes essenciais.

Como não existem carboidratos essenciais (somos capazes de produzir todo e qualquer carboidrato em nosso corpo), não há risco de desnutrição por falta deles.

Já os micronutrientes, eles vêm apenas da dieta.

Em jejuns mais prolongados, acima de 24 a 48hs, pode ser necessária a reposição de algumas vitaminas e minerais.

Geralmente, em jejuns que vão de 24 até 72 horas, ou um pouco mais, apenas consumir sal ou um caldo de ossos é suficiente.

 => O jejum mais prolongado da história documentado pela literatura médica durou…pasmem: 382 dias!!!

E o paciente? Sentiu-se muito bem durante todo o período, sendo avaliado constantemente por profissionais de saúde, fazendo apenas reposição de vitaminas e minerais e consumindo líquidos.

Para quem tiver interesse, CLIQUE AQUI para acessar o artigo sobre esse jejum.

19. FICAR LONGAS HORAS SEM COMER NÃO PODE CAUSAR PREJUÍZOS À SAÚDE, FOME EXCESSIVA, PREOCUPAÇÃO DESCONTROLADA COM COMIDA E AUMENTO DO RISCO DE DESENVOLVER TRANSTORNOS ALIMENTARES?

Vamos por partes.

Em primeiro lugar, deve ficar claro que o que estou defendendo aqui são jejuns que variam de 12 horas a 2 dias, podendo se prolongar por mais 1 dia ou um pouco mais.

Jejuns que duram mais do que 4 dias e aqueles de 1 semana ou até de 1 mês fogem ao objetivo desta entrevista.

Não digo que não possam ser feitos com bons resultados, mas, para esses casos, uma avaliação médica antes, durante e pós jejum é FUNDAMENTAL, com suplementação de vitaminas e minerais e, principalmente, com indicação precisa.

Dito isso, vamos à resposta.

 => PREJUÍZOS À SAÚDE?

Não vejo como.

Nosso corpo é uma máquina muito perfeita e consegue “guardar” energia, nutrientes etc., para usar em momentos de escassez, sem quaisquer prejuízos para nossa saúde.

Quando falamos de pessoas muito acima do peso, então, aí vejo que “saltar algumas refeições” pode trazer benefícios e não malefícios. Essas pessoas têm excesso de energia estocada e precisam eliminá-la.

Sem dúvida, restringir a entrada de alimentos auxilia na perda de peso. Se isso for feito de maneira correta, intercalando-se com uma alimentação saudável, os benefícios serão ainda maiores.

Perder peso, por si só, já é benéfico à saúde da maioria das pessoas.

Porém, para que mais benefícios apareçam, acho imprescindível que a mudança de estilo de vida seja completa. Não adianta fazer jejum e na hora de quebrá-lo se alimentar só de porcarias.

=> FOME EXCESSIVA?

Bem, como diz o meu amigo José Carlos Souto, jejum é como judô. Nós começamos na faixa branca e para chegar na preta precisamos praticar.

É possível que, no início, as pessoas sintam fome excessiva. A boa notícia é que ela vem em ondas e geralmente passa com o tempo. E isso é “treinável”!

Veja a minha EXPERIÊNCIA!


Quando comecei a fazer jejum, nunca imaginei que pudesse pular uma refeição sequer. Tinha medo de ficar fraco ou com dor de cabeça.

Com uma alimentação Low Carb já facilitei muito o processo, porque ela provoca mais saciedade naturalmente e a fome fica muito mais controlável. Isso se deve ao fato das subidas (picos) e descidas (vales) de insulina não serem tão intensas, entre outras explicações.

Quando a fome vinha, se eu tomasse água, chá ou café conseguia controlá-la e, com o tempo, fui aumentando o período de jejum.

O que se diz é que entre o 1º e o 2º dia é o pior momento, talvez porque o corpo ainda tenha reservas de glicogênio (fonte de energia encontrada no fígado e nos músculos) e as utilize sem mobilizar, de forma exclusiva, o tecido adiposo.

A partir de 48hs, com o fim das reservas de glicose, começamos a queimar “intensamente” gordura. Contudo, a utilização de ácidos graxos como fonte de energia aumenta a produção de corpos cetônicos (substâncias usadas como fonte de energia pelo cérebro e pelo corpo) e isso provocaria uma sensação de saciedade.

Como um bom cético, eu não acreditei piamente e preferi testar em mim. Mas fiz isso como um teste e por ser estudioso e curioso sobre o assunto e não porque eu precisava.

Já tinha feito jejum de 48hs e senti fome, mas controlei, como explicado acima, e tudo correu bem.

Quando surgiu a oportunidade de fazer esta matéria, resolvi fazer um desafio comigo: chegar a 72hs de jejum.

O resultado? Não é que os livros estão certos???

Do 2º para o 3º dia a fome simplesmente DESAPARECEU e, em alguns momentos, eu sentia como se tivesse comido uma refeição gigante…Tinha uma sensação de saciedade impressionante.

Louco isso, né??? Também achei! Mas acontece! Acreditem…experiência própria 😜.

 => PREOCUPAÇÃO DESCONTROLADA COM COMIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES?

A reposta rápida é não.

O que ocorre, de fato, é que, geralmente, quando saímos do estado não alimentado há uma tendência a comermos mais do que o “normal”.

Porém, isso não excede nem 20% das calorias que habitualmente comemos no dia.

Fazendo-se um dia de jejum e no outro alimentando-se normalmente, o déficit calórico criado chega a mais de 80% em relação a 2 dias de alimentação normal.

Inclusive, é recomendado evitar grandes refeições logo após jejuns maiores, para diminuir riscos de sensações de desconforto.

Em termos de transtornos alimentares, o que conheço é uma síndrome descrita na língua inglesa como “refeeding syndrome” (síndrome da realimentação).

Ela é definida como um deslocamento potencialmente fatal de fluidos e eletrólitos, podendo ocorrer em pessoas desnutridas, quando são realimentadas após longo período de jejum (mais do que 5 dias).

Isso provoca alterações metabólicas e hormonais. Alguns íons, mais precisamente o fósforo (o principal), o potássio e o magnésio, são rapidamente removidos do sangue e absorvidos pelas células, levando a uma queda radical dos seus níveis sanguíneos e a uma desregulação em seus níveis dentro das células.

Isso pode acarretar disfunções cardíacas graves (arritmias, insuficiência cardíaca, parada cardíaca), complicações neuromusculares, insuficiência respiratória e até morte.

Essa síndrome foi muito observada em soldados presos em campos de concentração (em períodos de guerra) que passavam por fome crônica (starvation).

Não é uma condição comum, tendo incidência de 0,43% em pacientes hospitalizados, sendo a desnutrição o seu principal fator de risco (normalmente devido a doenças como disfagia, alcoolismo, anorexia nervosa, depressão, câncer, doenças inflamatórias intestinais).

Percebam que, normalmente, a síndrome ocorre em pacientes subnutridos e com reservas fisiológicas bastante comprometidas, devido às doenças citadas ou à fome crônica.

Em casos de pessoas sadias fazendo jejuns intermitentes, é bem improvável de ocorrer.

 => O que se orienta é que pessoas magras evitem jejuns prolongados por mais de 5 dias. Além de desnecessário, pode ser arriscado.

Em caso de obesos, isso dificilmente ocorrerá, pois não existe risco de desnutrição, que é o principal fator de risco para ocorrência dessa síndrome.

20. JEJUM INTERMITENTE PROVOCA PERDA DE MASSA MAGRA?

Qualquer tipo de estratégia alimentar utilizada para perda de peso irá provocar perda de massa gorda, na sua grande maioria, e tem potencial para gerar um pouco de perda de massa magra.

 => Não há como haver emagrecimento sem atingir um pouco de massa magra. São escolhas que fazemos!!!

Dito isso, uma estratégia Low Carb é aquela que tende a provocar uma perda mínima de massa magra, pois o aporte de proteínas percentualmente aumenta, uma vez que reduzimos o consumo de carboidratos.

Com isso, há pouca ou nenhuma perda e, dependendo da pessoa, até um ligeiro ganho de massa magra, mesmo num processo de emagrecimento.

Tal consequência é impossível através da dieta tradicional. Nesse caso, o déficit calórico ocorre reduzindo-se, na mesma proporção, os três macronutrientes. Portanto, consumiremos menos carboidratos, menos proteínas e menos gorduras, mas manteremos os percentuais de 55 a 60%; 25 a 30%; e 10 a 20%, de cada macronutriente, respectivamente.

Mas, e no caso do jejum?

Como não haverá ingestão de nenhum macronutriente, a perda de massa magra é certa, correto?

Mais ou menos. Primeiro precisamos esclarecer algumas coisas.

Se a pessoa está acima do peso significa que tem gordura em excesso no corpo e o ideal seria ficar livre dela.

 => Pensem comigo: se a gordura é a forma que o nosso corpo inteligentemente encontrou para estocar energia, em momentos de falta de alimentos, porque ele iria queimar proteína, se tem gordura sobrando? Ainda mais considerando-se que músculos fazem parte de um tecido com diversas funções para o corpo, mas nenhuma delas relacionada a estoque de energia!

Não faz sentido!

E, de fato, isso não ocorre até que se atinja um percentual de 4% de gordura (MUITO BAIXO). Com o aumento dos hormônios GH e noradrenalina, o corpo faz um esforço no sentido de preservação de massa magra.

Mas, ainda que a perda ocorra em pequena proporção (em jejuns mais prolongados), vamos colocar a questão na seguinte perspectiva:

=> Qual o problema de se perder um pouco de massa magra se a imensa maioria da perda será de gordura?

Nesse caso, temos que focar no objetivo principal, que é tentar tirar do corpo o excesso de tecido adiposo e de possíveis doenças.

Se perdemos um pouco de massa magra junto, paciência…. Não dá para ter tudo ao mesmo tempo, não é mesmo?

Priorizamos o que é mais importante primeiro e depois corremos atrás de ganho de massa magra malhando. Aliás, é a forma mais eficaz para preservá-la ou ganhá-la (muito mais importante do que dieta).

Em pessoas magras, jejuns curtos não provocarão perda de músculos, pelos motivos hormonais já explicados. Se o jejum for associado a exercícios de força, é esperado até um ganho de massa magra, desde que no período alimentado forneçamos ao nosso corpo uma alimentação adequada, principalmente evitando-se restrições calóricas e não reduzindo o consumo de proteínas.

Jejuns mais prolongados em pessoas MUITO magras são desaconselhados e podem provocar perda de massa magra, uma vez que essas pessoas não têm muita gordura para queimar.

Mas, parece que o corpo tenta, ao máximo, conservar músculos em períodos de total escassez de comida. Sabe o que ele faz?

  • Aumenta a oxidação de glicose (glicogênio) e, em seguida, de gordura;
  • Diminui a oxidação de proteínas, reabsorvendo os aminoácidos (produtos do metabolismo que seriam eliminados) com mais eficiência e transformando-os em novas proteínas.

Então, a conclusão é a seguinte:

1) Jejuns curtos podem até ajudar no ganho de massa magra, se um protocolo correto de exercícios for bem realizado e a alimentação não for pouco calórica nem pobre em proteínas.

2) Jejuns mais prolongados, inevitavelmente, provocarão perda de massa magra, porque deixamos o corpo muitos dias sem alimentos.

Em pessoas obesas, essa perda tende a ser pequena em comparação à redução do percentual de gordura e aos benefícios provocados pelo jejum. Isso merece uma avaliação médica cuidadosa.

E, para finalizar este assunto, quero deixar a seguinte mensagem:

 => Assim como não devemos nunca focar em atividades físicas para emagrecer, pois elas serão, no máximo, um coadjuvante, não devemos nos preocupar tanto com dietas ou jejuns (desde que curtos, variando de 12hs ao máximo de 48hs ou um pouco mais) para ganho de massa magra. Eles serão igualmente coadjuvantes.

O que realmente importa é um bom educador físico e um bom treino de força, se o ganho de massa magra for o seu objetivo.

DICA! Aproveite para acessar o artigo do Dr. Marcelo Denaro em que ele desmistifica a crença de que atividade física emagrece. CLIQUE AQUI!

21. JEJUM INTERMITENTE DEIXA O METABOLISMO MAIS LENTO? O CORPO NÃO TENDE A ESTOCAR GORDURA QUANDO FICAMOS MUITO TEMPO SEM NOS ALIMENTAR?

É exatamente o contrário!

Vamos pensar de forma evolutiva. Se lá no período das cavernas os homens primatas, que certamente não tinham comida disponível o tempo todo, ficassem mais fracos e letárgicos a cada hora que passassem sem se alimentar, a espécie humana seguramente teria desaparecido da Terra em poucos anos.

Eles precisavam estar mais atentos, mais astutos e mais fortes para poder caçar ou mesmo para sair em busca de comida para si mesmos e suas famílias.

E é exatamente isso que acontece. Como já identificado em alguns estudos, o que vemos é uma aceleração do metabolismo basal provocada pelo aumento dos hormônios citados na resposta à 5ª pergunta da Parte I dessa série.

 => Vou repetir o que já disse antes: se o tecido adiposo é a forma evolutiva que a espécie humana encontrou para armazenar energia a ser usada em momentos de escassez, porque o corpo estocaria gordura se ficarmos em jejum?

Isto não faz sentido algum!

O tecido adiposo foi cuidadosamente programado para prover energia ao nosso corpo em períodos de falta de alimentos. Aliás, foi feito de maneira bastante eficaz, uma vez que, na forma de gordura, conseguimos armazenar mais calorias/grama de peso do que na forma de proteína ou carboidrato.

Acontece que, com as alterações hormonais que ocorrem no jejum, desbloqueamos de maneira mais produtiva a via de quebra da gordura e passamos a utilizá-la intensamente para fornecer energia ao nosso corpo.

22. JEJUM INTERMITENTE AFETA O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO? A PRIVAÇÃO DE COMIDA PODE INTERFERIR NA MEMÓRIA E NO NÍVEL DE CONCENTRAÇÃO E ATENÇÃO?

Mais uma vez, o que ocorre é o oposto disto.

 => Pensemos juntos: se o nosso primata das respostas anteriores fosse perder a capacidade de se concentrar ou de memorizar com a falta de alimentos, hoje não estaríamos aqui. Essa era uma condição muito frequente!

É óbvio que a natureza nos desenhou de forma a preservar nossas funções cognitivas ao máximo, na tentativa de nos dar lucidez para buscarmos alimentos em períodos de falta.

O que diferencia o ser humano dos outros mamíferos é exatamente a inteligência. O cérebro humano é um órgão tão nobre que é o último a ser afetado pela falta de comida, junto com as gônadas (que são preservadas para que possamos proliferar a espécie).

Mas alguém diria: o cérebro precisa de carboidratos para viver. Então, como ele faz?

Na verdade, se o alimento estiver escasso, o corpo é capaz de produzir todo o carboidrato de que precisamos, através da chamada gliconeogênese. Com isso, produzimos a quantidade necessária para ser usada pelo cérebro.

Ele também consegue funcionar, e muito bem por sinal, utilizando os corpos cetônicos provenientes do metabolismo da gordura (que conseguem atravessar a barreira que envolve o encéfalo e prover energia de qualidade para o cérebro).

 => Se você me perguntar se o jejum afeta o funcionamento do cérebro, eu te respondo: afeta sim, para melhor.

A minha experiência tem sido de muito mais capacidade de concentração e de ficar com a mente mais ativa, depois que introduzi o jejum no meu estilo de vida.

Sem falar nos possíveis benefícios TEÓRICOS (conheço estudos apenas em camundongos) do jejum na prevenção ou regressão de sintomas em doenças neurológicas, como Mal de Alzheimer, sequelas pós-derrames ou traumas cerebrais, depressão, declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento e outras doenças inflamatórias crônicas.

23. O JEJUM INTERMITENTE NÃO É INDICADO PARA AS MULHERES: MITO OU VERDADE?

Não consigo entender essa afirmação que exclui as mulheres.

É como se lá atrás no tempo houvesse uma lei esculpida em uma tábua mística dizendo assim: “Apenas os homens sofrerão falta de comida. Qualquer pessoa do sexo feminino está automaticamente livre desse mal e a comida cairá do céu para alimentá-la!”.

Que bobagem!

Brincadeiras à parte, o que quero dizer é que homens e mulheres foram igualmente expostos às mazelas do passado: frio, calor, fome, pestes, ataques de animais etc.

Se a mulher não pudesse fazer jejum, a espécie humana não resistiria, pois precisamos dos 2 sexos plenamente vivos e ativos para conseguirmos produzir descendentes.

Entretanto, também concordo que homens e mulheres são diferentes física, hormonal e fisiologicamente e que o jejum pode atuar de forma diferente para cada um dos sexos.

Considerando o jejum como um “estímulo estressor” (no sentido de escassez de alimentos), podemos dizer que homens e mulheres têm reações diversas a esse estresse.

Porém, como isso ocorreria, infelizmente, ainda é uma pergunta sem resposta científica.

Por isso, penso que as mulheres devam ter uma cautela maior para o jejum. Durante o período não alimentado, elas precisam ficar atentas aos seus corpos, verificando se haverá alguma modificação em seu ciclo menstrual ou outras sensações ruins ou piora na qualidade de vida.

Se uma mulher tiver “efeitos colaterais” consecutivos, deve, assim como funciona para os homens, desistir do jejum.

Acredito que a confusão que ocorre neste caso e que faz as pessoas afirmarem que jejum não seria para mulheres é que aquelas que possuem percentual de gordura extremamente baixo (como as desnutridas ou atletas de alto rendimento, por exemplo) chegam a entrar em amenorréia (param de menstruar). Em razão disso, criou-se o mito de que a mulher não poderia jejuar, porque a impediria de reproduzir e não faria bem a ela.

Percebam que estamos falando de extremos: mulheres muito magras não devem fazer jejum, especialmente os prolongados, sob risco de que esse estresse provoque interrupção em seu ciclo menstrual e ovulatório.

Mas homens muito magros também não devem fazê-lo. E muito magro significa valores iguais ou menores aos de atletas de elite, na ordem de 8% em homens e um pouco mais em mulheres, algo difícil de alcançar.

Mais uma vez percebam a beleza da natureza. Mulheres com percentuais tão baixos de gordura, normalmente, sofrem de desnutrição e não teriam condições de carregar dentro delas uma outra vida e alimentá-la durante 9 meses.

Isso seria um risco enorme para sua vida e para a vida do bebê. Talvez por isso a natureza tenha criado uma “barreira natural”, evitando que ela possa engravidar num estado nutricional tão precário.

=> A mensagem que fica é: as mulheres devem ficar mais atentas às respostas em seus corpos durante o jejum e evitar aqueles mais prolongados. Mulheres com pouca gordura corporal devem evitar fazer jejum, principalmente se desejarem engravidar.

24. É POSSÍVEL FAZER ATIVIDADE FÍSICA EM JEJUM?


Mais uma vez me desculpem, mas gosto muito de uma frase que justifica a minha repetição de discurso:

“Nada na biologia faz sentido exceto à luz da Evolução” – Theodosius Dobzanhsky.

Voltemos ao nosso primata.

Será que ele se alimentava para ficar forte e poder sair para caçar ou coletar alimentos, ou ele tinha fome e saía em busca do alimento, tendo que caminhar por horas ou dias e até entrar em confronto com um animal para garantir o seu “jantar”?

É claro que é a 2ª opção.

Aliás, em geral, quando comemos muito, ficamos completamente letárgicos e com sono, ao passo que, em jejum, é normal ficarmos mais “espertos”.

Ninguém aqui diz que é necessário malhar em jejum, mas é absolutamente possível e seguro.

As escolhas devem ser feitas baseada na individualidade: se você se sente revigorado comendo algo, coma. Se prefere evitar, porque treina melhor sem comer, não coma.

Os benefícios teóricos de se malhar em jejum estariam ligados a:

  1. Melhora na sensibilidade à insulina e consequente melhora na tolerância à glicose.
  2. Melhor recuperação em exercícios de resistência aumentada.
  3. Melhor recuperação em exercícios de força aumentada (melhorando os ?indicadores? de crescimento muscular pós-treino).
  4. Repleção (capacidade de estar repleto) e retenção de glicogênio melhoradas. O músculo aprende a treinar com menos glicogênio, poupando-o para quando ele for realmente necessário. Isso melhora a performance quando o glicogênio estiver disponível.

Muitas pessoas utilizam os benefícios hormonais do jejum para malhar melhor, seja treino aeróbico, anaeróbico, de força ou um HIIT (Treino Intervalado de Alta Intensidade).

Não vou entrar em detalhes de cada treino específico, mas a mensagem que deve ficar é:

 => Siga o seu corpo e a sua individualidade. Sinta-se bem! Se quiser usar o jejum para potencializar os efeitos do seu treinamento, procure profissionais das áreas de nutrição e de educação física que sejam capacitados para isso.

25. JEJUM PROVOCA AUMENTO DO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH)?

Sim, como já visto na PARTE I dessa matéria, o GH é um dos hormônios que mais sobe com o jejum.

Inclusive, por conta disso, pode haver o teórico efeito anti-envelhecimento com maior queima de gordura e preservação de massa magra com a prática de jejuns intercalados com uma alimentação bem feita.

 => Para crescimento muscular é imprescindível que haja o ESTÍMULO realmente necessário: pegar peso.

Uma das modalidades esportivas que mais utiliza e se beneficia disso é a de bodybuilding (fisioculturismo).

Os bodybuilders (fisioculturistas) usam o jejum para aumentar o GH e poder ?secar e manter músculos?. Posteriormente, adotam uma estratégia de “carb load” (ingestão maior de carboidratos) para aumentar a insulina.

Nesse caso, esse hormônio funcionaria como um ?anabolizante natural? e, com isso, os fisioculturistas conseguiriam ganhar ainda mais massa magra.

 => BÔNUS!!! DICAS IMPORTANTES PARA COMEÇAR A PRATICAR O JEJUM INTERMITENTE

Que tal várias dicas para você iniciar o seu jejum?

São conhecimentos que o Dr. Marcelo Denaro adquiriu na vida profissional e que compartilhará com você, para ajudá-lo a colocar o jejum em prática com segurança e sem receios ou dúvidas.

Ele já citou algumas delas aqui, mas agora irá resumi-las de um modo mais didático:

DICA #1: Tenha um estilo de vida Low Carb ou Paleo comendo comida de verdade.

DICA #2: Mantenha-se ocupado. Isso ajuda demais a esquecer a fome.

DICA #3: Comece com jejuns mais curtos e, se desejar aumentar, faça isso aos poucos. Não desista se tiver contratempos no início. Eles são normais e melhoram com a prática.

DICA #4: Respeite a sua individualidade. Algumas pessoas se adaptam bem com jejuns mais curtos e outras com jejuns mais prolongados. Descubra a sua forma de jejuar e pratique-a, mas sem sofrimentos.

Para aqueles que não se adaptaram, tudo bem. Talvez o jejum não seja para eles.

DICA #5: Não conte aos outros que está em jejum (as pessoas em geral ainda não entendem muito bem e irão te desestimular).

DICA #6: Se passar mal ou achar que naquele dia não está se dando bem com o jejum, quebre-o e tente outro dia.

DICA #7: Sensações leves de enjoo, fraqueza, dor de cabeça ou outras podem melhorar com hidratação e/ou consumo de sal.

DICA #8: Se quiser a anuência de seu médico, procure algum que estude, faça ou pelo menos entenda sobre jejum. Caso contrário, você irá se decepcionar.

Se fizer uso de medicamentos, especialmente para pressão ou diabetes, tenha um médico para orientá-lo antes de começar a fazer jejum. NÃO SE AVENTURE SOZINHO. ISSO PODE SER PERIGOSO!!!

DICA #9: Não “roube” querendo compensar tudo o que não comeu em um dia no outro. Deixe o seu corpo ?falar por si? e mantenha seu estilo de vida nos dias em que irá se alimentar.

DICA #10: Tome bastante líquidos. Água pela manhã pode ajudar a suprimir a fome matinal. Café, alguns chás e caldo de ossos costumam ajudar muito a reduzir a fome quando ela aparecer.

DICA #11: A fome vem em ondas. Aguente firme quando ela aparecer e faça uso de líquidos para “enganá-la”. Saiba que ela irá diminuir em alguns instantes.

DICA #12: Mude o seu jejum para se encaixar na sua vida e não o contrário.

Se tiver um evento em que precisaria ou gostaria de comer, não deixe de fazê-lo porque seria no dia do seu jejum.

Se está ocupado demais, sem tempo de parar para comer, use esse dia para fazer o jejum, mesmo que não seja o dia “programado”.

DICA #13: Não faça jejum para “poder comer porcarias” no dia seguinte. Esse não é o nosso objetivo. Jejum intermitente faz parte de um estilo de vida saudável e deve ser encarado como tal.

Lógico que, eventualmente, comeremos “porcarias”, mas o jejum não deve ser utilizado como uma “desculpa” ou “sinal verde” para liberar o consumo de alimentos processados/refinados e hiperpalatáveis (alimentos industrializados recheados de açúcares e gorduras, com um sabor altamente agradável ao paladar).

FINALIZANDO…

O jejum é uma ferramenta, muito potente por sinal, que pode ser utilizada por pessoas que precisam deixar rapidamente o estado de doença, especialmente síndrome metabólica e diabetes tipo II, mas também por aquelas que sofrem com obesidade e têm muita dificuldade em perder peso com as mais diversas dietas.

Entretanto, considero uma prática extremamente saudável e que pode ser incorporada também no dia a dia de quem é magro e não sofre com nenhuma doença.

É engraçado como a “regra” de se comer de 3/3 horas, que nem de longe foi uma situação corriqueira em TODA A EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE HUMANA, foi facilmente absorvida pelas pessoas e virou um dos dogmas da Nutrição (que vem caindo aos poucos, concordo, mas perpetuou inquestionável durante anos).

Por outro lado, o jejum intermitente, que consiste simplesmente em “saltar” algumas refeições e FEZ PARTE DA EVOLUÇÃO HUMANA DESDE OS PRIMÓRDIOS, precise de tanta defesa e sofra tantos ataques, como se fosse ruim ou provocasse desnutrição em seus praticantes.

 => Mas, na minha opinião, ele serve como complemento de um estilo de vida saudável. O mais importante e primordial é que tenhamos uma alimentação baseada em comida de verdade, de preferência com carga glicêmica bem inferior à preconizada pelas famosas Diretrizes Nutricionais.

Jejuar, para quem é viciado em carboidratos, é física e mentalmente difícil (na maioria dos casos) e, para os adaptados à gordura como fonte primária de energia, ele “simplesmente acontece”.

 => MAIS BÔNUS!!! VANTAGENS DO JEJUM INTERMITENTE

Para fechar com chave de ouro essa matéria incrível, trazida com exclusividade pela Vivo Leve, o Dr. Marcelo Denaro apresenta as 9 vantagens do jejum intermitente:

1. É simples! Não requer livros ou apostilas complexas para entender o que se deve ou não comer, nem em que momento comer.

Basta saltar alguma (s) refeição (ões). Quanto mais simples, maiores as chances de ser reprodutível e eficaz.

2. É barato! Economiza dinheiro e pode ser feito por ricos ou pobres. O custo é ZERO.

3. É democrático! Pode ser feito teoricamente por qualquer pessoa (especialmente os mais curtos), observando-se as peculiaridades discutidas ao longo da entrevista.

4. Poupa tempo! Tempo de comprar alimentos, de cozinhar, de lavar louça, de interromper o que se está fazendo para comer.

5. É seguro! Trata-se de uma prática milenar, realizada ao longo de milhares de gerações, com a qual o ser humano evoluiu.

6. É intuitivo! Se você não tem fome ao acordar, por exemplo, porque forçar o seu corpo a comer? E se comeu pela manhã e não teve fome no almoço, qual o problema em comer apenas à noite?

7. É flexível! Você escolhe quando, onde e por quanto tempo fazer.

Se, por acaso, sentir-se mal ou não quiser continuar por quaisquer razões, pode interrompê-lo a qualquer momento.

8. É poderoso! É uma ferramenta terapêutica poderosa para tratar da obesidade, diabetes e síndrome metabólica, reduzindo, ou quem sabe eliminando, a necessidade de medicamentos nesses pacientes (associado, é claro, a uma mudança no estilo de vida alimentar).

9. É libertador! Saber que não estamos presos a comer a cada 3 horas, que não somos “obrigados” a comer em todas as refeições, que podemos saltar uma refeição se estamos em um lugar onde o que está disponível não nos apetece, sem nos sentirmos mal, fracos ou com dor de cabeça por não comer, é muito bom.

O Dr. Marcelo Denaro acrescenta uma última vantagem: como eles diriam em inglês, “it?s cool”.

É legal e virou moda! Agora está cheio de gente querendo testar.

É bom que as “modas” mudem, porque a anterior (comer de 3/3 horas) não ajudou na redução da obesidade do mundo… Basta dar uma olhada ao redor.

Quem sabe essa de fazer jejum também “pega”?

Perdeu as primeiras partes dessa série? Clique nos links abaixo:

=> PARTE I ? Informações básicas sobre o jejum intermitente

=> PARTE II ? Jejum intermitente na prática

O conteúdo deste site é fornecido apenas para fins de educação e informação e não substitui a consulta a um médico, nutricionista ou outro profissional da área para aconselhamento, diagnóstico e tratamento. As informações aqui apresentadas não devem ser utilizadas em substituição ao aconselhamento profissional e nem como base para autodiagnóstico.

Published by
Janaína Marra

Recent Posts

  • Dieta e Saúde

Alimentos na Dieta Low Carb: quais podem ser consumidos e quais devem ser evitados!

Alimentos na Dieta Low Carb! Você sabe quais podem ser consumidos e quais devem ser…

1 ano ago
  • Dieta e Saúde

Guia prático sobre KEFIR – Saiba tudo sobre esse poderoso probiótico na entrevista com o especialista Dr. Leonardo Fonseca

Você já ouviu falar em KEFIR? Já imaginou quais são os seus benefícios para a…

1 ano ago
  • Low Carb

Quiabo grelhado ou abóbora assada: qual você prefere?

Quiabo grelhado ou abóbora assada? Se for perguntar para mim, confesso que vai ser difícil…

1 ano ago
  • Saúde e Bem-Estar

Guia: como escolher frutas, legumes e verduras na feira

Você fica em dúvida sobre como escolher frutas, legumes e verduras quando vai na feira?…

2 anos ago
  • Low Carb

17 ideias de refeições rápidas e saudáveis para inspirar você a preparar a sua própria comida!

Está sem inspiração para preparar a sua própria comida? Que tal 17 ideias de refeições…

2 anos ago
  • Doces

Casquinhas de chocolate Low Carb recheadas com creme de amendoim – É dos deuses!

Casquinhas de chocolate Low Carb recheadas com creme de amendoim. Não ficaram de babar? Ahhhh…

2 anos ago